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13/01/2021 - 10:10

A PEDRA NO CAMINHO

Carlos Drumond de Andrade, consagrado escritor e poeta brasileiro, tem um poema “ No Meio do Caminho”, que começa assim: ”no meio do caminho tinha uma pedra; tinha uma pedra no meio do caminho”.

Na década de 90, fruto de pesquisas anteriores, surgiu uma pedra preciosa no nosso caminho: a WEB (internet); depois, a pedra trouxe outra pedra: as redes sociais- face book; instagran; e muitas outras. Hoje, as redes sociais dominam o Brasil e o mundo, com suas mensagens que nos bombardeiam a todo momento. Há internautas que acordam e dormem com elas; são viciados; portanto, doença. Outra pedra, e essa perigosa pelos estragos que produz, são as fake news: notícias e vídeos (às vezes, montagens) que trazem uma mensagem, que, mesmo tendo um fundo de verdade, são falsas. O pior é que são consumidas e retransmitidas, sem qualquer crítica de conteúdo, ou teste de origem e veracidade. O problema maior, não é esse; mas, outra pedra: o chamado “analfabetismo funcional”. Que “pedra” é essa? Trata-se do indivíduo que, mesmo sabendo ler e escrever, e até com média escolaridade, não consegue ler e compreender um simples escrito; por exemplo, um simples bilhete. Ele recebe do emissor, mas, mas compreende o que lê. Em resumo: Não lê por que não consegue entender o que está escrito; Mesmo alfabetizado, não consegue entender construções frasais simples; Não consegue interpretar gráficos simples, mesmo conhecendo números; Não consegue realizar operações matemáticas mais complexas. O problema é mais grave do que se imagina. Segundo especialistas, o analfabetismo cultural está presente em todas as faixas escolares, inclusive no ensino superior.

Há alunos que entram “analfabetos” num curso superior, e saem “doutores” também analfabetos. O analfabetismo funcional pode estar ligado a diversas causas como, por exemplo: Má qualidade do Ensino Básico; Sistema de alfabetização ineficiente; As palavras são levadas ao pé da letra e não pelo contexto; Falta de incentivo a leitura e, Falta de incentivos governamentais para melhorar a educação. Há indicativos que apontam de 30 a 40% da população alfabetizada, se encontram nesse estágio no Brasil. E, apenas 8% da população entre 15 e 64 anos é plenamente capaz de entender e se expressar corretamente. Essa é a pedra: analfabetismo funcional: Segundo o indicador, existe uma escala de classificação de alfabetismo: analfabeto (4%), rudimentar (23%), elementar (42%), intermediário (23%) e proficiente (8%); (in, Ibope Inteligência). O fake news explora esse tipo de leitor: acrítico; crédulo em pessoas (“salvadores da pátria”; “mito”; “messias”) e que engole a mensagem falsa e perigosa: “feijão milagroso” pra curar a COVID; ou remédios mágicos, mas não aceitos pela ciência; terra plana; interpretações pessoais das profecias bíblicas, etc.

É o que assistimos hoje na política brasileira: estamos caminhando para um regime teocrático e conservador rigoroso nos costumes. Diz um educador: “Combater o analfabetismo funcional só é possível se os governos fizerem disso uma causa verdadeira e conseguirem fomentar uma política educacional de longo prazo. Ideias existem. O que não existe é vontade política”. Assim, como remover essa pedra? Não é destruindo a internet, censurando, ou boicotando, as redes sociais. É por meio de políticas públicas, do diálogo, do debate, da crítica e autocrítica. Assem, teremos cidadãos esclarecidos e aptos a opinar, ler e conhecer fake news. Creio que, com as exceções de praxe, podemos constatar que a  preocupação das faculdades privadas é o lucro.

E a do governo é numérica. Hoje temos, sobretudo nas universidades privadas, alunos com baixíssimo nível de leitura sendo formados para serem professores. Trata-se da retroalimentação de um círculo vicioso. Educação básica- de qualidade e eficácia- deveria fazer parte da cesta básica do brasileiro, assim como o arroz, o café ou a carne. . O Plano Nacional de Educação foi criado em 2014 e conta com diversas metas que deveriam ser cumpridas até 2024. Entre elas, está a elevação do nível de alfabetização da população e a melhoria da qualidade da educação básica e superior. Como está sua execução? Com a palavra o MEC. No dia 30 de outubro de 1938, um programa de rádio simulando uma invasão extraterrestre desencadeou pânico na costa leste dos Estados Unidos. 06 milhões de pessoas entraram em pânico. Era um “boato”, a fake news da época, baseado no livro A Guerra dos Mundos, do escritor inglês Herbert Wells> O programa relatou a chegada de centenas de marcianos a bordo de naves extraterrestres à cidade de Grover’s Mill, no estado de Nova Jersey.

Outra: notícia divulgada em plena ´pandemia: “o cidadão com mais de 60 anos que estiver na rua terá sua aposentadoria suspensa por tempo indeterminado. O texto dizia ainda que filhos e netos do infrator que tenham mais de 18 anos serão responsabilizados com multa de R$ 1.045.” . milhões no Brasil leram e  acreditaram. nessa fake news. As Fake News têm um grande poder viral, isto é, espalham-se rapidamente. As informações falsas apelam para o emocional do leitor/espectador, fazendo com que as pessoas consumam o material “noticioso” sem confirmar se é verdade seu conteúdo. O poder de persuasão das Fake News é maior em populações com menor escolaridade e que dependem das redes sociais para obter informações. No entanto, as notícias falsas também podem alcançar pessoas com mais estudo, já que o conteúdo está comumente ligado ao viés político. Essa pedra também precisa ser removida do caminho da nossa democracia, com o rigor da lei, com esclarecimentos oficiais. Não apenas tirando o sofá da sala, na clássica piada do adultério. Debater, dialogar, expor posições e defendê-las, com plena liberdade de comunicação e expressão, sem censuras, é salutar. É a base e a “pedra” de uma sociedade democrática e livre. O estranho é a “pedra” do não-debate, do monopólio da verdade, de visão única e autoritária, de pautas dirigidas de costumes, de confronto com os poderes de Estado, sua autonomia e separação, ou sua destruição, como os ataques ao Congresso e STF, apesar de suas incoerências e falhas, essa pedra necessita, a bem da cidadania e democracia, ser urgentemente removida do nosso caminho, para que, livremente, possamos exercer nossa cidadania, fiscalizando, apoiando e cobrandos os poderes públicos e as demais instituições sociais- inclusive, a mídia e as redes sociais, para que visem o bem comum e, não, interesse ideológicos e políticos particulares e na nada republicamos. Há no Brasil, sem dúvida, uma autêntica ditadura da mídia, monopolizada por famílias, que dita a pauta brasileira. Mas, não é poder incontestável. Pode ser combatido pela vigilância diuturna da sociedade civil. Essa batalha está sendo travada, a cada instante, inclusive nas redes sociais. O poder público, e suas empresas concessionárias, com as redes de TV e outras mídias, tem obrigação de prestar contas à sociedade, ao povo, à opinião pública. Isto é democracia e cidadania, é bem comum, é bem público e comuntário. É a verdadeira “pedra” que precisamos continuar a construir, com lutas e tensões, mas, certos do triunfo da verdade.

(*) Auremácio Carvalho é Advogado.

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