• Cuiabá
  • SÁBADO, 23 , AGOSTO 2025
  • (65) 99245-0868
10/04/2022 - 10:37

Desmatamento ilegal avança e pressiona reserva do Xingu; 8,1 mil hectares derrubados

Entre janeiro e fevereiro, 84% da floresta derrubada na porção mato-grossense da bacia do Xingu não tem autorização. Em Gaúcha do Norte e Paranatinga, municípios próximos à terra Indígena, taxa sobe para 100%

Nos dois primeiros meses de 2021, quase 10 milhões de árvores foram derrubadas ilegalmente na porção mato-grossense da bacia do Xingu, o equivalente a 84% do desmatamento na região entre janeiro e fevereiro.

Em União do Sul, município mais desmatado no período, 98% da área total derrubada não possui autorização de desmate. Já em Gaúcha do Norte e Paranatinga a taxa sobe para 100%. Algumas das áreas desmatadas ilegalmente nos três municípios estão muito próximas dos limites do Território Indígena do Xingu.

O estado deu um salto de 75% na taxa de desmatamento em relação aos dois últimos meses do ano, contabilizando 8.100 hectares desmatados. Os dados são do 17º boletim Sirad X, o sistema de monitoramento de desmatamento da Reserva Xingu, uma articulação de indígenas, ribeirinhos e seus parceiros que vivem ou atuam na região.

Os dados oficiais de autorização de desmate foram disponibilizados pela Secretaria do Meio Ambiente do Mato Grosso (SEMA-MT). As áreas desmatadas detectadas pelo monitoramento que não coincidiram com nenhuma autorização em vigência foram consideradas ilegais.

O ritmo do desmatamento diminuiu 22% nos primeiros dois meses de 2021 na bacia do Xingu, com 14,8 mil hectares desmatados. A queda aconteceu na porção paraense da bacia, onde as taxas caíram pela metade, resultado, em parte, dos esforços de fiscalização.

Apesar da intensa fiscalização do Governo, com aumento de multas, garimpos ilegais ameaçam território indígena do Xingu, em Mato Grosso

Ainda assim, não há o que comemorar: 48% do desmatamento detectado no estado ocorreu dentro de Áreas Protegidas, em Terras Indígenas e Unidades de Conservação.

O garimpo ilegal não cedeu em 2020 e continua crescendo. Em apenas dois meses, 246 hectares foram abertos nas Terras Indígenas Kayapó, Baú e Apyterewa.

O aumento dessa atividade em TIs se explica, em parte, pela expectativa criada em torno da aprovação do Projeto de Lei n° 191/2020 que propõe a legalização da atividade garimpeira por terceiros dentro de TIs. “Proposta que, apesar de ser abertamente inconstitucional, junto com a ausência de operações de fiscalização nas áreas de garimpo, reforça a manutenção e expansão desta atividade ilegal”, aponta Elis Araújo, advogada do ISA.

Mais de 2.190 ha foram desmatados em Unidades de Conservação da bacia do Xingu, desse total, 90% ocorreu na Área de Proteção Ambiental Triunfo do Xingu. Em dezembro de 2019, a Rede Xingu + enviou uma nota técnica aos órgãos ambientais do Pará (Semas e Ideflor-bio) propondo recomendações para o combate ao desmatamento na UC, como a instalação de duas bases de fiscalização permanentes nos portos por onde saem tudo o que é extraído e produzido lá.

“Esperamos que as recomendações sejam consideradas e que ações sejam tomadas para conter a destruição da floresta”, pondera Araújo.

No segundo lugar do ranking, a Floresta Nacional de Altamira teve 156 ha de floresta derrubados. Com duas áreas de garimpo ilegal ativas e outra porção disputada por grileiros, a integridade territorial da região está em risco.

O rio tem grande importância na vida dos povos da floresta e é por ele que muitos se guiam e se deslocam. O rio Xingu, que nasce no Mato Grosso até desaguar no rio Amazonas, no Pará, recebe ao longo do seu curso a contribuição de vários outros rios, como Iriri, Bacajá, Fresco, Suiá-Miçu, Culuene dentre outros, que formam a bacia do rio Xingu.

É nas suas cabeceiras que está o Alto Xingu, na direção sul, e na medida que ele desce, o Médio e o Baixo Xingu. É pelo sentido das águas do Xingu que os indígenas e ribeirinhos se orientam por seu território, do Alto ao Baixo, de sul à norte.

A partir desta edição, o mapa do boletim Sirad X da Rede Xingu + vai seguir a mesma orientação utilizada pelos povos da floresta, assim como para eles, o nosso “norte” nasce no Xingu.

 

 

 

Fonte:  Odocumento

+