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18/05/2021 - 10:04

TERCEIRA VIA

O cenário político nacional aponta para um quadro conhecido: a radicalização entre os dois candidatos já em campanha antecipada: Lula e Bolsonaro. O que é a repetição do mesmo nenhum dos dois, até agora e como sempre demonstraram, tem qualquer projeto de Brasil sério- político, social e econômico; mas, somente a busca do poder pelo poder. As recentes pesquisas apontam para um cenário de vitória de Lula no segundo turno. Não há como negar este fato, pois, o cientista político da Universidade Presbiteriana Mackenzie Rodrigo Prando afirma que o cenário revelado pelo Datafolha, com Lula à frente de Bolsonaro, permite algumas conclusões. “Essa pesquisa joga um balde de água fria não apenas nos bolsonaristas que tinham, há seis meses, quase uma garantia absoluta da reeleição de Bolsonaro; mas, especialmente, numa terceira via.”.

Essa é questão: surgirá um terceiro nome? Bolsonaro já acusou o golpe. Xingamentos, fake news, posts antigos do adversário, ameaças de não haver eleição (“sem volto impresso, não haverá eleição”) e, na manifestação de sábado:  “Se não tiver voto auditável, esse canalha (referindo a Lula) ganha as eleições por fraude no ano que vem”. É preciso mobilizar sua tropa de choque a todo vapor para calar o oponente:“ hoje, meus 22 ministros estão alinhados para defender o governo com a própria vida, se possível for”, disse. Os presentes gritaram “eu autorizo”. Autorizam até golpe de estado com ele no poder; fechamento do STF, como as faixas mostravam? “Vocês estão reescrevendo a história do Brasil. Em vocês, nós confiamos. Não é vocês que estão comigo. Eu estou com vocês.”.

A história que queremos é essa que estamos assistindo hoje?. Temos dúvida. Em 2018, Bolsonaro era a novidade que ia varrer a velha política, o toma lá, dá cá, corrupção etc. Discurso que não poderá repetir em 2022; pois, na sua pratica, já se esvaziou. A prática política o desmascarou. Hoje, ele depende do Centrão, que, como sabemos, é um profissional que cobra caro pelo seu apoio. Qual será o “novo” Bolsonaro? O da pandemia- será um desastre pelo que vem fazendo na crise sanitária; o da moralidade- uma fraude, dada a rachadinha familiar; ou seja, não vai colar.

A CPI da Covid, mal completa duas semanas, tem sido um desastre para o governo, com revelações de arrepiar-falsificação de bula do maná milagroso- hidroxocloroquina, gabinete fantasma no Planalto; fuga do Pazuello em depor via HC;  ignorou 06 propostas da Pfizer em 2020, etc. O jeito é apelar para factoides: voto impresso, armar a população, por exemplo. No ato de sábado, além se xingar o adversário- “bandido de nove dedos”, O general Braga Neto, Ministro da Defesa, também participou do evento, e afirmou que “o agro é a força do Brasil”. O exército vai protegê-los para que possam produzir em paz”. Uma declaração perigosa e que destoa completamente de suas funções constitucionais.Cabe ao Exército proteger o agronegócio? Virar uma instituição de governo ou de grupos e não de prover a segurança do nosso território e das instituições democráticas, conforme a CF (art. 142)? Voltando à 3ª via. Um terceiro nome- Doria, Boulos, Ciro Gomes, Mandetta, o jovem governador do RS, Eduardo Aráujo, além de neutralizar a polarização, precisará acenar para um projeto político, econômico e social capaz de alavancar o desenvolvimento do país, concreto, sem show de baixaria que estamos acostumados a ver, com filmagens paradisíacas de paraíso tropical; exploração de lágrimas e outras hipocrisias. O eleitor está cansado e exausto desse filme, quer respostas concretas, que, até agora, nenhum dos dois é garantia de entrega. Essa 3ª via é aquele jogador que sai do banco de reservas para fazer o gol do título. Tarefa difícil, atualmente, pelos resevas que estão no “banco” no momento. Pode ser que surja. Carisma, popularidade e, sobretudo, retidão de caráter, integridade pessoal e profissional, credibilidade perante a opinião pública. Essas, dentre outras, serão as características que serão cobradas para o futuro presidente do Brasil. Será que Doria (PSDB), Ciro Gomes (PDT) e Luiz Henrique Mandetta (DEM), são esse “reserva” e romperão a barreira adversária criada por Lula e Bolsonaro nas urnas?. O tempo dirá. A pesquisa folha-dados da semana passada, apontou que no 1º turno de 2022, Lula teria 41% e Bolsonaro 23%; ou seja, 59% não votariam em Lula e 77% não votariam em Bolsonaro. No 2º Turno, Lula teria 55% e Bolsonaro, 32%; com vitória de Lula. Aqui é que entra a terceira via (ou, um terceiro candidato). Geralmente, ele surge para dirimir um impasse: o eleitor conhece o candidato Lula- vida, 2 governos, êxitos e fracassos. Também conhecerá o candidato Bolsonaro, não o de 2018, mas o verdadeiro- vida, família, suspeitas de rachadinha familiar, quebra das principais promessas de campanha, Centrão, etc. Perguntará o eleitor: estou satisfeito com ele; cumpriu suas promessas; merece continuar?.Ou, Lula merece voltar? Não teríamos uma terceira opção?Tenta reconciliar os posicionamentos políticos, econômicos e sociais tradicionalmente associados à direita e à esquerda, ambas hoje, totalmente radicalizadas e agressivas, buscando um novo caminho. Foi o caso do primeiro-ministro britânico Tony Blair e sua facção dentro do  Partido Trabalhista, o New Labour, ou de Bill Clinton nos EUA, ambos vitoriosos. O presidente francês Emmanuel Macron e seu partido La République en Marche são considerados como encarnando essa terceira via, por sua rejeição da divisão tradicional esquerda/direita e sua síntese entre socialismo e liberalismo.Ou seja, um terceiro candidato faria diferente em educação, saúde, segurança, direitos humanos, meio ambiente, etc? Se sim, será votado; se não, o que é mais comum, a montanha de votos nulos ou brancos, vai ser maior do que os votos do candidato vencedor, ou seja, vai beneficia-lo. Ainda, nessa hipótese, a escolha do “menos ruim” é uma alternativa-(quem não tem cão caça com gato). “Se não tiver uma terceira via, vou de Lula”-(FHC). A Terceira Via foi a ideologia resultante da reformulação da social-democracia (décadas70/80). Seria uma tentativa de reconciliação entre direita e esquerda, pois defendia uma política econômica conservadora associada a uma política social progressista. O primeiro ministro britânico Tony Blair conseguiu reunir em Dublin, na Irlanda, personagens como Bill Clinton (que seria presidente dos Estados Unidos) e Fernando Henrique Cardoso (que seria presidente do Brasil) e outros líderes mundiais para discutir um projeto envolvendo a social-democracia que interessava a todos eles. Nasceu a nova jabuticaba política mundial. Que tal leitor? É viável? Ou, será melhor trocar seis por meia dúzia?

(*) Auremácio Carvalho é advogado e sociógo.

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